Descriminação
A existência do preconceito é reconhecida, mas sua prática é sempre atribuída ao outro.
O racismo ganha assim contornos de uma estranha invisibilidade: apesar de não aparecer na forma de políticas oficiais ou manifestações públicas abertamente discriminatórias, está presente nos contatos mais elementares das relações cotidianas.
Em "Nem Preto nem Branco, Muito Pelo Contrário", a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz aborda um dos temas mais recorrentes na discussão sobre racismo no Brasil: a ambiguidade.
Em um estudo abrangente, que trata das relações sociais no país desde a época colonial, este ensaio revela que existe muito mais entre o branco e o preto no Brasil contemporâneo do que supõe o velho mito da democracia racial. ma cena insólita e o resultado aparentemente sem sentido de uma pesquisa falam mais sobre o racismo velado que impera no Brasil do que as escassas denúncias de preconceito que alcançam o horário nobre do noticiário nacional.
A cena: um pesquisador do censo tenta convencer a mulher negra, contra a sua vontade, que ela é branca, afinal, trata-se de uma professora da USP.
A pesquisa: 97% dos entrevistados dizem que não têm preconceito, mas 98% deles indicam que convivem em seu círculo de amizade (parentes, namorados e amigos íntimos) com pessoas preconceituosas.
É o caminho que o Brasil – país do mito da “democracia racial” - trilhou para invisibilizar o racismo, jogando-o na a esfera da vida privada, que a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz aborda didaticamente em seu ensaio Nem Preto Nem Branco, Muito Pelo Contrário – cor e raça na sociabilidade brasileira, do selo Claro Enigma, do grupo editorial da Companhia das Letras.
O livro faz parte da coleção Agenda