Descartes e Benjamin
SíNTESK N O V A FASK
V. 21 N. 64(1994):125-131
M A T O S , Olgária C . Feres, O iluminismo visionário:
Benjamin,
leitor de
Descartes
c Kant,
S ã o P a u l o , B r a s i l i e n s e , 1993,
184pp., I S B N 85-11-12066-1
O pensamento de Walter Benjamin é certamente uma das fontes mais preciosas para se c o m p r e e n d e r os descaminhos do homem ocidental contemporâneo em sua acidentada experiência histórica. A própria situação do autor — vivendo entre a filosofia e a crítica da cultura, entre o materialismo histórico e a teíílogia, fugindo do nazismo e indo ao encontro da própria morte — nos dá u m exemplo claro de u m intelectual deslocado, ante certas estruturas estabelecidas, numa Alemanha entre guerras assolada pela inflação, marcada pela derrota na primeira grande guerra e cenário das práticas políticas de uma esquerda titubeante.
Mas a produção intelectual de Benjamin só muito recentemente tem sido objeto de estudo no Brasil e não menos recente é a tradução de seus textos mais significativos. Neste sentido, este livro de Olgária Matos torna-se mais u m elemento importante na escassa bibliografia sobre o autor em nosso país. O livro é composto de quatro ensaios e nos mostra, dentre outras coisas, o modelo de razão com o qual Benjamin trabalhava e as suas tensas relações com o projeto iluminista de razão que, fugindo dos erros dos sentidos, pretendia ter acesso à verdade a partir de idéias claras e distintas. Como bem demonstra
Olgária Matos, Descartes é o grande artífice desse projeto que se tornou u m dos sustentáculos da nossa modernidade.
Mas não seriam estes sustentáculos meras ilusões? O u seja, no que se refere à razão das luzes, não teria ela deixado de iluminar certas experiências do homem que não seriam passíveis de compreensão pelo logoá que busca o claro e o distinto? Não teria a nossa modernidade de acertar contas com a sua ratio?
Percebe-se, com a leitura deste livro, como estas questões