DESABAFO MATUTO
Pra ocê que é especial.
Tu tá bem tá? Oxente nós nunca se vê.
Ta danado fai um muntão de tempo que num vi tu, nun sei nem onde tua ta agora, onde tu anda.
Mai num ta vendo sô que pras bandas de lá é bem mior do que pras bandas de cá.
Mai pro mode me pergunte
Ocê sabia que tô com sote.
Ainda onte sonhei que ia ganhar um milhão
Só que o milhao memo sendo desse tamanhão
Nun tihna um só grão de milho
Vixe assim nun dá.
De que seve tem um milhão sem um só grão
Assim não é milhão é só um sabugão.
Ra ra ra. Eu queria memo era os milhos
O que é que vô fazer com um sabugo sem milho
Oxe. Oxe. Oxe
Vou é vortá pra minha terra
Pro meu pé de serra
Pro mode que la os milhos são pequenos
Mai são garantidos nós come os milhos e dá os sabugos pras vaca e pros boi.
Chau pra ocê tô indo simbora
Pro meu pé de serra pro meu torrão
Comê rapadura com farinha sêca queijo de quaio
E tomar café prençado no pilão
Comê tumbém bejú, batata dôce e cará
Com carne seca feita de jabá vei
O jumento do sertão.
Assim fico fote e com mais dispusição
Pra tabaiar na roça botando os grão no chão
E depoi da invernada fica linda a plantação
Depoi que noi colhê
Um pouco agente vende pá ganhar algum tostão
Assim dá pá compar rôpa xinelo e sabão,
Cadeno e lapi pos minino e pá patroa também
Que tá estudando mobrá e fai bem sua lição.
Num posso esquecer de compar
Mai mantemento pá nossa alimentação.
Se dé compo um caxinbo novo
Poi o meu tá um torrão.
O que restá da colheta
É pá nossa manutenção.
Agora eu tô indo
Vou montado em mia égua
Percorrer muita légua
Até chegar na minha terra
Pois aqui num fico mai não.