Denúncias sociais, violência urbana e corrupção na obra agosto (1954) de rubem fonseca
Porque em nosso mundo, onde muda a memória coletiva, onde o homem, o home qualquer, diante da aceleração da história, quer escapar da angústia de torna-se órfão do passado, sem raízes, onde os homens buscam apaixonadamente sua identidade, onde procura-se por toda parte inventariar e preservar os patrimônios, constituir bancos de dados, tanto para o passado como para o presente, onde o homem apavorado procura dominar uma história que parece lhe escapar, quem melhor do que a história nova pode lhe proporcionar informações e respostas? Essa história, que trata dele por inteiro, em sua duração secular, que o esclarece sobre as permanências e as mudanças, proporciona-lhe o equilíbrio entre os elementos materiais e espirituais, o econômico e o mental, propõe opções sem impô-las. Sempre coube à história desempenhar um grande papel social, no mais amplo sentido; em nossa época, em que esse papel é mais do que nunca necessário, a história nova, se lhes forem proporcionados os meios de pesquisas, de ensino, (...) e de difusão de que necessita, está em condições de desempenhá-lo.
Jacques Le Goff, 1988
O presente trabalho trata-se da análise do romance Agosto, obra do autor Rubem Fonseca. A escolha desta obra como objeto se deve ao fato de trata-se de um romance histórico. É uma narrativa policial mesclada de ficção e realidade, retratando, sob o olhar do autor, acontecimentos importantes da História política brasileira.
O romance aborda um dos mais importantes momentos da História política do Brasil, o suicídio do presidente Getúlio Vargas, trazendo à tona os fatos que marcaram os primeiros 24 dias do mês de Agosto de 1954, ocorridos na cidade do Rio de Janeiro; e que culminaram com a morte do presidente da República. Em Agosto, como em outras várias obras, Fonseca faz um retrato direto da luxúria e da violência urbana, sob vários aspectos. Seu realismo retrata o mundo do qual fazem parte marginais, prostitutas, delegados, bandidos, assassinos,