Democracia

Na passagem de mais um ano, temos fortes razões para crer que nosso país fortaleceu-se na luta contra os vícios estruturais e históricos que apossaram-se do Estado e do sistema político brasileiro. É senso comum em nossos sítios a ausência de espírito cívico de grande parcela da classe política, o patrimonialismo e o caráter fisiológico que regem as suas relações, assim como o velho populismo maniqueísta e o novo coronelismo revigorado que agora, com aparelhos eleitorais que funcionam como empresas, compra votos também nas cidades, não só no campo. Mas há ventos de mudança. Mudanças baseadas em novos padrões de justiça e lideradas nada menos do que pelo Supremo Tribunal Federal. No país da impunidade e do foro privilegiado para corruptos com mandato, presenciamos um julgamento que aplicou a lei penal aos ex-maiores chefes do país. O elenco de provas e indícios expostos eram mais que suficientes para condenação em qualquer sistema jurídico nas democracias desenvolvidas, com processo respeitando todos direitos e garantias fundamentais.
O país assistiu estarrecido a compra e venda de apoio político no Congresso Nacional (diga-se, o mais caro do mundo), com direito a carro forte na entrega de valores pecuniários aos parlamentares mensalistas e burocratas da quadrilha, que, mesmo filmados recebendo propina, até hoje procuram negar o inegável. Seria difícil mensurar os danos ao nosso esgarçado tecido democrático na hipótese de um grande arreglo no colegiado do Supremo Tribunal garantindo absolvições por encomenda, ainda considerando o histórico de indicações de seus integrantes.
O julgamento em rede nacional democratizou o acesso da sociedade civil, proporcionou amplos debates em incontáveis fóruns e incorporou-se à pauta do cidadão comum, e, para além da fundamentação jurídica dos Ministros do STF, aqui analisava-se mais o comportamento político e moral de uma quadrilha que utilizou o Estado brasileiro para desviar recursos públicos e perpetuar um projeto de