Deleuze e a lacan - desejo
A Lei do Desejo e o Desejo Produtivo: Transgressão da Ordem ou Afirmação da Diferença?
CARLOS AUGUSTO PEIXOTO JUNIOR1
RESUMO O artigo pretende confrontar as concepções de desejo nas teorias de Jacques Lacan e Gilles Deleuze, respectivamente, apresentando algumas diferenças entre um modelo hegeliano, pautado na lei, na falta e na negatividade, e outro, nietzscheano, baseado na afirmação e na produção. Assim, torna-se possível pensar em duas formas de subjetivação também diversas, uma centrada na visão edipiana, e outra proveniente da crítica desse modelo matricial. Com isso, pretende-se ainda contrapor à idéia de uma transgressão negativa, fundada na renegação da lei e da ordem, uma concepção de transgressão criadora ou positiva, baseada na afirmação da diferença. Palavras chave: Desejo; lei; transgressão; Lacan; Deleuze.
PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 14(1):109- 127, 2004
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Carlos Augusto Peixoto Júnior
1. Introdução Este trabalho tem como objetivo principal confrontar as concepções de desejo nos pensamentos de Jacques Lacan e Gilles Deleuze, respectivamente, procurando mostrar, em linhas gerais, as diferenças entre um modelo pautado na lei, na falta e na negatividade, e outro baseado na afirmação da produção e na positividade do excesso. Com isso pretendemos também esboçar alguns traços dominantes de duas formas de subjetivação diversas: a primeira centrada prioritariamente numa visão edipiana, e a segunda, proveniente da crítica desse modelo matricial. Para delimitar melhor o problema, gostaríamos de esclarecer desde já que tomaremos como referência maior do pensamento lacaniano o período que privilegia o registro do simbólico como campo prioritário de articulação do desejo, assim como as críticas deleuzianas que se dirigem mais diretamente a esse tipo de leitura do conceito. No caso de Lacan, partimos do pressuposto de que é o pensamento de Hegel que serve de inspiração para a sua