Deficiencia E Preconceito
O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência
Luciene M. da Silva
Universidade do Estado da Bahia, Programa de Pós-Graduação Educação e Contemporaneidade
Introdução
Tomando como base a análise de Horkheimer e
Adorno (1985) sobre o anti-semitismo, encontramos elementos notórios que elucidam a dinâmica do preconceito como atitude hostil direcionada a objetos definidos a partir de generalizações, informações imprecisas e incompletas. Essa reflexão tem como referência a experiência traumática vivida pelos autores na Europa sob o terror fascista que, a despeito de ser um fato datado historicamente, deixa seu rastro visível no atual panorama sociopsíquico, com sinais evidentes de mal-estar, vandalismo e vida precária, configurando um terreno fértil para a reincidência da barbárie. O preconceito, para esses autores, incorpora fenômenos contemporâneos, resultantes das relações sociais cada vez mais impeditivas para a reflexão sobre a própria impotência diante de uma ordem social que diferencia pela estigmatização. Numa sociedade que impõe renúncias e sacrifícios, que enrijece o pensamento dadas as condições de sobrevivência num contexto de privações determinadas por relações desiguais, de apropriação concentrada dos bens ma-
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teriais e simbólicos, o preconceito torna-se um elemento presente e freqüente no processo de conhecer, restringindo-se, por conseguinte, à mera apreensão do imediato. As atitudes de preconceito desenvolvem-se no processo de socialização que é fruto da cultura e da sua história: “ Como tanto o processo de se tornar indivíduo, que envolve a socialização, quanto o do desenvolvimento da cultura têm se dado em função da adaptação à luta pela sobrevivência, o preconceito surge como resposta aos conflitos presentes nessa luta”
(Crochik, 1996, p. 11).
Nesse contexto, cabe enfatizar o elemento psicológico como determinante na adesão ou vinculação do indivíduo aos valores que contradizem seus próprios interesses.