Decadas de mudança
João B. Serra*
Texto publicado em
Quando o Atlântico encontra a Europa, catálogo da Exposição do ICEP na EXPO 98
Lisboa, 1998.
Uma sucessão de ciclos de mudança marcou Portugal nas últimas quatro décadas. As alterações ocorreram a um ritmo mais rápido do que no passado e sobretudo lograram um alcance mais profundo. As transformações agiram a um plano estrutural e aos diversos níveis da sociedade e do Estado. É essa provavelmente a principal conclusão de uma retrospectiva histórica sobre o Portugal recente, neste final do século XX.
As distâncias entre o país e o resto do Mundo, designadamente a Europa, diminuiram consideravelmente. A aproximação entre Portugal e outros países não foi consequência apenas da modernização dos meios de transporte e comunicações, mas da quebra de barreiras económicas, culturais e políticas erguidas pelo Estado Novo, um regime instaurado na sequência de um pronunciamento anti-liberal em 1926. Até ao final da década de 1950, o Estado Novo, sob o comando de Oliveira Salazar, cultivou o isolacionismo político e cultural e procurou orientar a vida económica para a autarcia. O incremento do comércio externo português e os primeiros passos da integração económica europeia foram, ainda nos anos 60, factores económicos decisivos para a abertura do país ao exterior. Foram-no igualmente, ainda nessa década, a entrada do país nas rotas turísticas internacionais e o surto de emigração portuguesa para a Europa.
As novas dimensões e meios da difusão da informação, em paralelo com o surto económico, geraram igualmente novas expectativas sociais das classes médias. O desajustamento entre as aspirações a condições de vida e de costumes europeus e os padrões impostos pelo Estado Corporativo está na origem de uma crescente contestação. Mas enquanto o protesto do mundo rural se exprime indirectamente através do fenómeno emigratório, o protesto urbano é formalizado em movimentos sociais relativamente