De barras de sabão a manuscritos anônimos

De barras de sabão a manuscritos anônimos
Cobras Criadas foi escrito por Luiz Maklouf Carvalho em 1991, o livro tem como principal foco a vida do jornalista David Nasser e da revista O Cruzeiro. Com base em um imenso material de entrevistas, o livro revela os bastidores da imprensa. O fotógrafo Jean Manzon também foi personagem importante nessa história, ele e Nasser formaram uma dupla de sucesso e fizeram grandes reportagens com métodos pouco ortodoxos, nenhum dos dois tinham escrúpulos ou preocupavam-se com a veracidade dos fatos.
Facilmente encontra-se exemplos desse “mau” jornalismo em Cobras Criadas. Em 22 de março de 1945 acabou a censura á imprensa no Brasil. Aproveitando-se disso, Nasser e Manzon fizeram uma reportagem com a denúncia bombástica de que Getúlio Vargas estava organizando um golpe para voltar ao poder. Sem nenhuma prova, a quase comicidade da matéria vem na revelação da fonte da informação: “Um manuscrito anônimo encontrado dentro de uma garrafa, por um desconhecido, na areia da praia de Copacabana!”. Não é preciso de muita argumentação para mostrar a falta de veracidade na matéria.
Assim como em “Sabão Humano”, com as fotos de José Medeiros de um velório comum num cemitério israelita, Nasser diz que dentro dos caixões estavam barras de sabão “obtido de gordura humana extraída de judeus sacrificados nos campos de concentração”. David não só escreveu, como descreveu o método como a gordura era obtida pelos nazistas. Tudo isso sem prova alguma.
Contudo, a verdade seja dita. Mesmo nesse mundo de manipulações, reportagens boas foram feitas, é o exemplo de uma da reportagem da série “43 dias nas selvas amazônicas”. Nasser e Manzon dizem que não encontraram animais silvestres na floresta, decidiram então ir ao Museu de Goeldi, em Belém, e lá fazer as fotos. A abertura da reportagem já abria a mente do leitor: “Vocês hão de achar graça, mas conseguimos, mentalmente, colocar esses animais em seu mundo maravilhoso e preparamo-nos para a volta