David Coimbra: um pouco de roubo
Uns estão lá para roubar, outros roubam para estar lá. Tudo bem, não me importo de ser um pouco roubado. É preciso algum cinismo para viver como brasileiro. Temos, nós, brasileiros, coisas estranhas, como cartórios, por exemplo.
O cartório é o nosso cinismo remunerado. Todo mundo sabe que o cartório não garante a veracidade de nada, mas os cartórios são sempre solicitados e estão sempre lotados. As pessoas pagam por aqueles carimbos e saem de lá não com a sensação de que estão com um documento oficial nas mãos, mas com o alívio de ter cumprido uma dispensável e inútil exigência burocrática.
No sistema anglo-saxão, não existem cartórios. Aqui, nos Estados Unidos, a despeito do cartapácio de documentos que já assinei, precisei num único dia de um notário, e o encontrei atrás do balcão de um banco privado. Como os bancos estão sempre vazios, porque todo mundo usa a internet, saí de lá em quatro minutos. Como tinha conta naquela agência, o trabalho do notário foi gratuito.
Nos países anglo-saxões, eles acreditam na sua palavra. Não tem burocracia e a fiscalização é frouxa. Mas, se você mente, a punição é dura. E certa.
Ao mesmo tempo, assim como há escassa vigilância oficial, qualquer cidadão pode (e exige) vigiar. Vou contar um caso que me deixou perplexo. Foi o tal escândalo dos e-mails da Hillary Clinton. Vi na TV e li nos jornais que ela estava em apuros porque, quando era secretária de Estado, usou seu e-mail privado para se comunicar com os assessores. Fiquei desconcertado. Mas qual é o problema? Entendi só no dia seguinte, quando um articulista do NY Times explicou que a História e o povo americano têm o direito de conhecer o conteúdo das conversas oficiais dos servidores públicos. Isso quase inviabilizou a candidatura de Hillary, imagine.
Dias atrás, havia eleições municipais aqui (por aqui sempre há algum tipo de eleição). Bem. Um americano me perguntou como são as eleições no Brasil. Fiz um resumo e, quando falei do sistema