Das casas às roças: comunidades de candomblé no rio de janeiro desde o fim do século xix, por roberto conduru
[http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi21/Topoi21_10Artigo10.pdf]
1. Práticas religiosas na Capital Federal após o fim da Abolição
Conduru inicia seu artigo apresentando duas principais obras que lançam olhares sobre as práticas religiosas de matriz africana no Rio de Janeiro. As Religiões do Rio, de Paulo Barreto (pseudônimo “João do Rio”), publicado em 1904, é organizado a partir de uma série de reportagens publicadas no jornal Gazeta de Notícias. Outra fonte importante é Os candomblés antigos do Rio de Janeiro – as nações Kêtu: origens, ritos e crenças, publicado em 1994 por Agenor Miranda Rocha.
O autor destaca as singularidades e limitações de cada fonte, assinalando que, enquanto predomina uma “visão de fora” na primeira, isto é, seu autor não detinha os conhecimentos advindos da iniciação naqueles ritos religiosos, na segunda, surge uma “visão de dentro”, propiciada pela experimentação de Rocha junto à nação Kêtu do candomblé.
Na esteira do tráfico negreiro durante o século XIX, encontramos numerosas passagens dos dois autores sobre a presença de africanos na então Capital, muito embora a convivência entre estes não fosse apropriadamente harmoniosa. João do Rio informa que “os pretos se odeiam intimamente, formam partidos de feiticeiros africanos contra feiticeiros brasileiros1.”
Há maior ou menor cuidado, conforme as passagens textuais disponíveis, quanto às referências às localidades originárias dos africanos em seu continente natal. Também é notável a descrição da presença de baianos no Rio de Janeiro de então. Rocha anuncia:
“Ao longo da segunda metade do século XIX concentramse na cidade do Rio de Janeiro, em número significativo, negros baianos que