Danças mandingas - império mali
Fabíula da Silva*
1. INTRODUÇÃO
As reflexões aqui propostas surgem do contato e experiências com ritmos e danças de matriz africana, realizadas junto aos grupos La Clinica1 e Abayomi2 nos últimos cinco anos.
O contato com as corporeidades e ritmos africanos “tradicionais” cria e transforma espaços interiores e exteriores na relação traduzida pelo corpo-tempo-espaço. Perceber e realizar dança a partir de um corpo-cultura dotado de formas de sentir, perceber, (re)criar e expressar os movimentos desta gramática que caminha de outro continente trazendo sua linguagem, gera uma outra forma de se fazer as danças africanas e remetem ao maior interesse em conhecer e compreender o contexto na qual são realizadas.
Essa interface criada a partir da relação tradição-tradução fez surgir a necessidade de compreender como se dá o processo de concepção, realização e difusão das danças que apreendemos como tradicionais africanas, qual sua origem e história, para então, poder formular reflexões a cerca de como a percebemos, interpretamos e executamos numa nova configuração.
A partir daí, pesquisas a fontes secundárias e relatos de profissionais na área de danças e ritmos do oeste africano, foram realizadas no intento de esclarecer de onde vem, como acontecem e são disseminadas as danças e ritmos Mandingas (ou ainda Mandens ou maninkas) estudados e praticados em aulas, ensaios e celebrações.
Para isso, buscou-se compreender o espaço geográfico, as características socioculturais de onde emergem as manifestações artísticas objetos de análise e reflexões propostas, espaço este que segundo Milton Santos constitui-se num "sistema de objetos e um sistema de ações" (1997 apud Suertegaray, 2001) que:
“...é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história