Dança
DANÇA
PEQUENO TEXTO PARA A REVISTA ELETRÔNICA DA ANA LUIZA FREIRE
Dançar: palavra e discurso, evento e obra.
Quero falar da dança. Preciso de um ponto de partida ou, para aproveitar a riqueza simbólica da dança, preciso acertar o passo para entrar na dança. O meu passo inicial, não sei, se parte de muito longe ou de muito perto, na verdade, não gostaria que partisse nem de longe, nem de perto, mas de dentro da dança, melhor, fosse dança. A dança, como toda arte, somente será apreciada mergulhando no seu interior. O dançante, como o apreciador de arte, é co-autor. Acredito que somente a palavra oferece as condições de um começo interno.
Palavra e discurso
O mundo das palavras é surpreendente. Os poetas, muito antes dos ecologistas - talvez sejam os primeiros e eternos ecologistas -, nos ensinaram admirar, contemplar e reinventar a natureza em palavras e ritmos. As belezas do universo em movimentos, cores e relevos continuam sendo as paisagens principais de quem tem o olhar do poeta e do artista. Ambos transcendem o fenômeno natural através da linguagem, talvez, o fenômeno natural esteja mais próximo daquilo que se manifesta no imaginário do poeta. Por que haveria de ser aquele do cientista? É na fertilidade do traço, das cores, das formas e da palavra (fala) que o universo adquire mais uma dimensão, a humana. Surgem assim mundos humanos, o do desenho, o da escultura, o dos quadros e o da palavra. Mundos alicerçados sobre o discurso no sentido mais amplo da manifestação humana.
Num breve retrospecto até as raízes de nossa civilização ocidental, encontramos a palavra como fonte primordial. Javé, o Deus bíblico, criou tudo o que existe pela força da palavra. “Deus disse:
‘Faça-se a luz!’ E a luz foi feita” (Gen. cap.1,v.3). Para os gregos o Logos, a palavra, é o fundamento do mundo. A mensagem da era cristã começa dizendo que no começo era o Verbo. Vilem Flusser, já inspirado nos estudos lingüísticos, afirma que o ser humano buscou no