Daniele
Resumo: A obra de Cora Coralina contém características do Memorável, uma das Formas Simples, apresentadas por André Jolles, ao lado da Lenda, do Caso e da Facécia, entre outras.Elementos do conto “Correio Oficial de Goiás” encontram ressonância nesta modalidade de Forma Simples, que remete à historicidade.
A poetisa e contista Cora Coralina, batizada Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, possui obra que consta de cinco livros de poesia e seis em prosa sendo quatro de contos e dois infantis, todos editados pela Global Editora. Nosso conto consta do livro Estórias da Casa Velha da Ponte, livro de publicação póstuma, escrito no ano de 1985, o mesmo da morte da autora, sendo, pois, um livro que não foi acabado. se constitui em texto literário prenhe de elementos de verossimilhança tais como: nomes, datas, localizações e, em seu início, a transcrição da própria página do jornal local, que dá nome ao texto. Julgamos ser pertinente alguns esclarecimentos acerca das passagens do conto coralineano, por nós escolhido, neste artigo.
Nosso conto está estruturado com o seguinte enredo: um sargento-mor, inspetor interino da Real Tesouraria da Fazenda, da Província de Goiás é assassinado, em 10. de maio de 1839, por um boliviano chamado Don Miguel. Este é capturado e preso, da mesma forma que o mandante, que é, porém, capturado morto, pois troca tiros com a guarda. O crime foi passional. Dois anos depois, o assassino boliviano é enforcado.
O texto possui características da mais pura descrição de uma condenação à forca, em Goiás: do condenado em seus últimos dias de vida, dos procedimentos para o enforcamento, antes, durante e depois do ato. Os elementos descritivos, não obstante, operam sua função num fluxo de causas e efeitos, sucessividade própria da contística, criando suspense para o leitor, que chega a crer que o enforcamento pode não acontecer por ação da Irmandade da Misericórdia, mesmo o narrador não mencionando, exatamente, Don Miguel,