Dani203
87630 palavras
351 páginas
E depois, quando saímos para ver sua lanterna já pronta da rua, eu disse que gostava do jeito como a luz brilhava no rosto que bruxuleava na escuridão.— “Jack O’Lantern”, Katrina Vanderberg, em Atlas
As pessoas dizem que amigos não destroem uns aos outros
O que elas sabem sobre amigos?
— “Game Shows Touch our Lives”, The Mountain Goats
PRÓLOGO
Na minha opinião, todo mundo recebe uma dádiva. Por exemplo, muito provavelmente eu nunca vou ser atingido por um raio, nem ganhar um
Prêmio Nobel, nem virar ditador de uma pequena ilha do Pacífico, nem ter um câncer terminal de ouvido, nem sofrer combustão espontânea. Mas, se você levar em conta todos os eventos improváveis, é possível que pelo menos um deles vá acontecer a cada um de nós. Eu poderia ter presenciado uma chuva de sapos. Poderia ter pisado em Marte. Poderia ter sido engolido por uma baleia. Poderia ter me casado com a rainha da Inglaterra ou sobrevivido meses à deriva no mar. Mas minha dádiva foi diferente. Minha dádiva foi a seguinte: de todas as casas em todos os condados em toda a Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman.
* * *
O bairro planejado onde morávamos, Jefferson Park, havia sido uma base da
Marinha. Mas aí a Marinha já não precisava mais dela e devolveu o terreno para os cidadãos de Orlando, na Flórida, que decidiram construir um bairro gigante, porque é isso que se faz com os terrenos na Flórida. Meus pais e os de Margo acabaram se mudando para casas vizinhas assim que as primeiras foram construídas. Margo e eu tínhamos dois anos.
Antes de virar uma Pleasantville e antes mesmo de ser uma base da
Marinha, Jefferson Park pertencia, de fato, a um sujeito de nome Jefferson, um tal de Dr. Jefferson Jefferson. Há uma escola batizada em homenagem a
Jefferson Jefferson em Orlando, além de uma grande instituição de caridade, mas o detalhe fascinante e