Da mulher submissa à rebelde em Gabriela, Cravo e Canela
Entre figurações do feminino na literatura de Jorge Amado, enfatiza-se um romance amplamente difundido: Gabriela, cravo e canela. Publicado em 1958, essa narrativa foi traduzida para várias línguas, além de ter tido tradução intersemiótica para a televisão e para o cinema.
A perspectiva escolhida para análise da obra permite a exploração de uma das mais fortes características da produção literária de Jorge Amado: A mulher. Em Gabriela, Cravo e Canela, o autor vem definir o papel social exercido pelo homem e pela mulher, esta subserviente ao coronelismo que imperava no contexto histórico da cidade de Ilhéus na Bahia.
Observando o contexto social do século XX e XXI, percebe-se que ser mulher ou homem perpassa por uma construção efetivamente social, sendo consequentemente as relações hierárquicas, geradas em nosso meio, fruto dessa construção. Como defende Samara (1996):
(...) é possível entender melhor, a partir do fictício, atitudes e psicologia das mulheres, desde que se aceite a premissa de que toda literatura fornece símbolos, estereótipos, arquétipos e papéis que são extremamente úteis para testar o real. Sendo assim, situações vividas por personagens de romances, apesar de na maioria das vezes sujeitas ao olhar masculino, dão voz às mulheres, movimentando um cenário de muitas indagações e poucas respostas sobre o lado feminino da questão. (SAMARA, 1996, p.127)
O papel social feminista na obra nunca é de ascensão, mas sempre destinadas aos trabalhos domésticos e/ou sexuais aos coronéis e senhores baianos da cidade de Ilhéus. Contudo, o narrador expressa situações em torno de algumas personagens femininas que indicam caminhos libertadores diante de uma sociedade falocêntrica e que se alinham com a atitude inconformista de Malvina, cuja condição social em nada se assemelha à de Gabriela por pertencer a uma família abastada e de tradição. Apesar de um cenário