da janela da casa de meu primo
Kahn, D. M. – A janela da esquina (resenha)
A janela da esquina de meu primo de E. T. A. Hoffmann:uma imagem fiel da vida eternamente mutável
Daniela Mercedes Kahn1
HOFFMANN, E. T. A. A janela da esquina de meu primo. Tradução: Maria Aparecida
Barbosa, Ilustrações: Daniela Bueno, Posfácio: Marcus Mazzari. São Paulo, Cosac
Naify, 2010.
A janela da esquina de meu primo (1822), lançamento ilustrado da Cosac Naify com tradução de Maria Aparecida BARBOSA, é um escrito ímpar dentro da variada obra de
E. T. A. HOFFMANN. Ele não se filia à vertente fantástica desse expoente do romantismo alemão. Tampouco representa o Hoffmann crítico e irônico, autor de deliciosas sátiras, como O pequeno Zacarias e Mestre Pulga, ou do romance de formação paródico, As opiniões do Gato Murr. De acordo com o abrangente posfácio de Marcus Mazzari, essa última narrativa, concebida durante a doença terminal que paralisou os membros do escritor, é já uma precursora da representação realista.
Para o leitor contemporâneo, cercado de imagens virtuais, esse texto evoca, antes de tudo, o prazer quase esquecido de observar a multidão através da janela. Porém esta não é a única característica capaz de despertar o interesse do leitor atual.
Destaquem-se pela sua modernidade a ficção de fundo autobiográfico, a tematização do cotidiano burguês, o enredo aberto protagonizado por um homem anônimo, a
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Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP. E-mail: danielak@ig.com.br
Pandaemonium germanicum 16/2010.2, p. 220-223 – www.fflch.usp.br/dlm/alemao/pandaemoniumgermanicum
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Kahn, D. M. – A janela da esquina (resenha) contemplação substituindo a ação, a fragmentação do espaço e, finalmente, a mobilidade do olhar antecipando a câmara cinematográfica ou televisiva.
O protagonista da história é um escritor paralítico; o narrador, o primo visitante.
Ambos compartilham o espetáculo de uma manhã de