Da enxada ao cajado, às engrenagens e aos chips
Da enxada ao cajado, às engrenagens e aos chips: a sobrevivência do "coronelismo"1
Paulo Emílio Matos Martins
As Raízes do Autoritarismo no Brasil
A Bertrand Russel (1938) devemos a ideia de que “a energia é a categoria central da Física, assim como o poder é a categoria central das Ciências Sociais”. A literatura sobre Administração, entretanto, frequentemente parece ignorar o caráter eminentemente social do seu objeto de estudo: o “espaçodinâmica organizacional”2, o que significa dizer, olvidar a natureza política, histórica e simbólica do fenômeno sobre o qual se debruça influenciada pelo sucesso dos trabalhos de seus autores pioneiros, como Taylor (1911), Emerson (1912) e tantos outros, que focalizaram, principalmente, as dimensões física, material e processual desse objeto para, somente décadas após, se voltarem para suas dimensões humana e política e, só muito recentemente, para sua dimensão simbólica. Destarte ser, ainda, muito comum no meio acadêmico o questionamento à cientificidade das epistemologias e metodologias não funcionalistas e não positivistas de interpretação da ação administrativa.
Neste ensaio, focado na perspectiva histórica e simbólica da dimensão política da gestão, reflito sobre a pertinência do emprego do referente “coronelismo” (LEAL, 1997; 1ª ed. 1947) como forma autoritária e muito viva de manifestação de poder/autoridade no “espaço-dinâmica organizacional” brasileiro contemporâneo. A questão que pretendo aqui responder é: seria o “coronelismo”, hoje, uma representação anacrônica de poder nesse lócus?
Como tese sustento que o “coronelismo de enxada” [forma rural de autoritarismo estudada por Leal
(1997)] está praticamente esgotado no Brasil, enquanto que o mandonismo, traço central desse fenômeno,permanece resignificado sob diferente formas na cultura política brasileira,