Da divisão social do trabalho
AUGUSTO CACCIA-BAVA JÚNIOR*
Durkheim escreveu De Ia división du travail social em 1886, à época em que se realizava, na Europa, toda potência produtiva trazida da Revolução Industrial. Seu livro não se destinava, no entanto, apenas ao elogio dos feitos da burguesia inglesa, francesa e da intelectualidade que ordenava politicamente esse processo produtivo. Apontava, ao contrário, para a necessidade de se transformarem as concepções que predominavam sobre os acontecimentos sociais, derivadas da teoria evolucionista de Spencer. do positivismo universalizante de Comte e do direito coercitivo, mais que normativo de então. A transformação que propunha era, no entanto, no sentido de criação de uma ciência particular da sociedade e não da contestação dos filósofos lidos e adotados por ele. Os interlocutores de Durkheim, que ele apresenta nos três livros de que se compõe De Ia división du traxail social, aparecem pela necessidade de explicitação das razões que o levavam à defesa da Sociologia como nova ciência da sociabilidade. Não eram citados apenas para revelar erudição que, de fato, Durkheim possuía, nem mesmo por terem sido eleitos para uma polêmica aguda, como era do feitio de Marx e Engels, seus contemporâneos, fazê-lo. A propósito. Durkheim até refere-se a Marx. ao final de seu trabalho, para fortalecer seu argumento em torno da necessidade de uma ciência da regulação da divisão do trabalho, que permitiria maior controle dos movimentos de opinião, diversos ou divergentes, da ordem estabelecida. Essa foi a razão fundamental da obra de Durkheim. Procuraremos expor, neste trabalho, o encadeamento lógico dos argumentos do fundador da Sociologia contemporânea e apresentar, na medida do possível, alguns traços do estilo de pensamento que a época lhe proporcionou.1 Durkheim, apoiado no evolucionismo de Spencer, buscou apresentar a divisão do trabalho social como função reguladora das instituições