Da divisão do Trabalho Social
Emile Dürkheim
PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO
Algumas observações sobre os agrupamentos profissionais
Ao reeditarmos esta obra, vedamo-nos modificar sua estrutura original. Um livro possui uma individualidade que deve conservar. Convém deixar-lhe a fisionomia sob a qual ele se fez conhecer1.
Mas há uma idéia que ficou na penumbra na primeira edição e que parece-nos útil ressaltar e determinar melhor, pois ela esclarecerá algumas partes do presente trabalho e mesmo dos que publicamos depois2. Trata-se do papel que os agrupamentos profissionais estão destinados a desempenhar na organização social dos povos contemporâneos. Se, primitivamente, só havíamos abordado esse problema por meio de alusões3, é porque contávamos retomá-lo e dedicar-lhe um estudo especial. Como sobrevieram outras ocupações que nos desviaram desse projeto e como não vemos quando poderemos dar-lhe continuidade, gostaríamos de aproveitar esta segunda edição para mostrar como esse problema se liga ao tema tratado ao longo da obra, para indicar em que termos ele se coloca e, sobretudo, para tentar dirimir os motivos que ainda impedem muitos espíritos de compreender corretamente sua urgência e seu alcance. Tal será o objeto deste novo prefácio.
I
Insistimos várias vezes, ao longo deste livro, sobre o estado de anomia jurídica e moral em que se encontra atualmente a vida econômica4. De fato, nessa ordem de funções, a moral profissional só existe em estado rudimentar. Há uma moral profissional do advogado e do magistrado, do soldado e do professor, do médico e do padre, etc. Mas se procurássemos estabelecer numa linguagem um pouco definida as idéias em curso sobre o que devem ser as relações entre o empregador e o empregado, entre o operário e o empresário, entre os industriais que concorrem um com o outro ou com o público, que fórmulas indecisas obteríamos! Algumas generalidades imprecisas sobre a fidelidade e a devoção que os assalariados de toda sorte devem aos que