“Da ausência do trabalho à viração: a importância da catação na manutenção da vida”
* Heloisa Helena Gonçalves
**Luís Henrique Abegão
O lixo existe desde quando os homens começaram a se agrupar e a viver em cidades. A reunião de pessoas num mesmo local ocasionou a produção de uma quantidade razoável de resíduos sólidos, essencialmente de origem orgânica. O fato de, no início, não se saber ao certo como lidar com o lixo, permitiu uma disposição desordenada e sem controle do mesmo, o que contribuiu para o desenvolvimento de grandes epidemias no período da Idade Média, na Europa. A ocorrência dessas doenças deu origem ao hábito de se depositar o lixo fora das chamadas áreas urbanas e aos primeiros projetos de saneamento básico, em cidades, como Paris, Bruxelas etc.
O mundo mudou e o lixo gerado por ele também. A sociedade moderna assumiu características diferenciadas das sociedades que a precederam. A compressão do espaço e do tempo e tantos outros fenômenos promovidos pelo processo de globalização vêm provocando a expansão de um consumo desenfreado e, conseqüentemente, de uma descartabilidade cada vez maior e mais rápida daquilo que é adquirido.
Considerando que atualmente as coisas que podem ser vendidas (produtos) e aquelas que não deveriam ter preço (pessoas) incorporam coisas e são incorporadas ao mundo do descartável, rediscute-se a questão do consumo e suas conseqüências.
O cenário atual indica uma grande aceleração no ritmo de produção e de consumo. Isso significa que a produção de lixo também acaba sendo diferenciada, distanciando-se cada vez mais dos tempos anteriores. E mais, indica que a riqueza encontrada no lixo de hoje é característica particular da atual sociedade.
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* Geógrafa e mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ.
** Engenheiro. Mestre e doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ.
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O lixo atual é diferente em quantidade