Da arte de vagar por uma casa de espelhos
Ao ver os principais questionamentos que seriam abordados no seminário cursado me senti, imediatamente, numa casa de espelhos. Pensar a relação entre a arte e a verdade? Mas que Verdade é essa? E que Arte é essa? Diria mais: numa casa de espelhos no estilo borgeano, quase uma “biblioteca de Bábel” perfilhada de livros translúcidos e envolventes; assuntos que se desdobram e que parecem justapor-se uns aos outros. Ah! A sedução das teorias. Eu viria a provar desse cálice...
Esse seria o início que havia pensado para este ensaio, mas me pergunto se não estaria sendo pretensioso, ou mesmo atrevido demais. Afinal, é um ensaio o que se pensa escrever aqui (ou deveria ser) – e nesse momento cismo sobre todas as questões de ordem e de forma que cercam esse gênero de intricada definição1. Para não ficar nesse impasse, proponho, portanto, o que seria o objetivo central desse exercício: um caminhar por esses caminhos sinuosos que foram se mostrando ao longo das aulas.
E começamos por um caminho que se assemelha a raízes de árvores antigas: lendo “O Mundo”, capítulo do livro O Demônio da Teoria: literatura e senso comum, de Antoine Compagnon. Aqui o “mundo” parece mostrar-se em diversos espelhos, paralelamente. O autor nos apresenta (em paralelo) diversas visões sobre a literatura e sua relação com a realidade. Diversas conceituações apresentam-se em fila e passamos por elas. Algumas estão de mãos dadas, outras parecem discutir entre si e virar as costas em seguida.
Eu diria que a impressão que tive do primeiro texto estudado entrega-se à tautologia (mas não perde sua razão): o capítulo “O Mundo” é, em si, um mundo. Essa característica, ao invés do que se poderia imaginar, não causa confusão ou desvaloriza a reflexão de Compagnon. Pelo contrário. É desenhado um panorama das teorizações ao redor do conceito de mimesis, representação, na literatura. Ao acompanhar as ponderações do teórico desde a origem do conceito e suas