Cybercultura
De uma forma muito geral, podemos identificar, em relação aos estudos sobre a Internet [1], duas posições. A primeira a considera como um fenômeno total, analisando-a em bloco e tecendo considerações à respeito de suas relações com a sociedade, também considerada, na maior parte das vezes, como um todo. A segunda, parte do pressuposto de que a Internet, mais que constituir-se em um artefato tecnológico inovador, estabeleceu um novo espaço e tempo de interação social, dentro dos quais emergem formas novas e diferenciadas de sociabilidade. Estas, não são homogêneas, nem no que diz respeito à própria Internet, tampouco no que tange às suas relações com o mundo "real".
Neste ensaio, pretendo fazer o apanhado de algumas idéias que vão na direção da segunda postura, que me parece mais adequada para considerar os fenômenos que estão relacionados à cibercultura. Tentarei também levantar algumas possibilidades de estudo, considerando a abordagem antropológica como privilegiada para esta tarefa.
Inicio com uma brevíssima consideração à respeito de certos termos e conceitos cuja definição é fundamental para orientar o tratamento da questão. Logo em seguida, realizo algumas considerações à respeito da adequação dos instrumentos analítico/interpretativos da Antropologia para o estudo do tema. Concluo com o esboço de um projeto de pesquisa: o namoro na Internet.
Ciberespaço / Cibercultura: Discussão de conceitos
Nas pesquisas sociais, uma das primeiras questões que devem ser pensadas é a da construção do objeto de estudo. De acordo com Bourdieu, os objetos da Ciência Social não estão "prontos", mas devem ser construídos, a partir de um determinado referencial teórico que irá orientar o trabalho analítico:
"Un objeto de investigación, por más parcial y parcelario que sea, no puede ser definido y construido sino en función de una problemática teórica (...)" (Bourdieu, 1978: 54, grifo do autor).
Portanto, antes de considerarmos a Internet como tema