curriculo
Formação de leitores e razões para a Literatura1
Ricardo Azevedo2
Fala-se muito em “formação de leitores”. É “politicamente correto” elogiar a literatura e a leitura. Infelizmente, não poucas crianças têm contato com adultos – pais, professores e outros – que recomendam a leitura, falam em livros e autores “clássicos” mas, na verdade, não são leitores nem se interessam pela literatura. Apesar de bem intencionadas, essas pessoas, adeptas da filosofia do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, costumam descrever a literatura de forma bastante idealizada. Falam em algo
“mágico”, num prazer “indescritível”, referem-se a “viagens” e coisas assim.
Raramente, porém, talvez por não terem experiência, lembram-se de comentar, por exemplo, que a leitura, como muitas coisas boas da vida, exige esforço e que o chamado prazer da leitura é uma construção que pressupõe treino, capacitação e acumulação. O contato com adultos pseudoleitores e com idealizações infelizes a respeito da literatura e da leitura, de qualquer forma, tenho certeza, não tem contribuído para a formação de novos leitores.
Mas o que é exatamente um leitor? De um certo ponto de vista, é possível dizer que leitores são simplesmente pessoas que sabem usufruir dos diferentes tipos de livros, das diferentes “literaturas” – científicas, artísticas, didático-informativas, religiosas, técnicas, entre outras – existentes por aí.
Conseguem, portanto, diferenciar uma obra literária e artística de um texto científico; ou uma obra filosófica de uma informativa. Leitores podem ser descritos como pessoas aptas a utilizar textos em benefício próprio, seja por motivação estética, seja para receber informações, seja como instrumento
Artigo publicado em SOUZA, Renata Junqueira de. (org.) Caminhos para a formação do leitor. São Paulo,
DCL, 2004. ISBN 85-7338-927-3
2 Escritor e desenhista. Doutor em Letras–USP.
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www.ricardoazevedo.com.br
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