Culturas urbanas e espaços públicos
CARLOS FORTUNA
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais
Culturas urbanas e espaços públicos:
Sobre as cidades e a emergência de um novo paradigma sociológico 1
O texto começa por perguntar se seremos capazes de construir mais e melhor cidade no futuro próximo. Implícito está o pressuposto de que a sociologia urbana, na sua versão clássica, não está em condições de oferecer indicações sobre como fazê-lo.
Para tal, ela terá que repensar-se e que reformar os seus quadros teóricos e procedimentos analíticos. Para ilustrar esta necessidade, o texto percorre terrenos (zonas de intermediação) onde habitualmente apenas se vêem sinais de retracção dos espaços públicos e busca neles potenciais virtudes políticas em emergência.
Introdução, ou sobre a sociologia das cidades
A julgar pela análise demográfica prospectiva, dentro de uns cinquenta anos a população mundial a viver nas cidades deverá rondar os seis biliões, o que representa grosso modo o dobro da população urbana actual. Se juntarmos a isto a precariedade das condições de vida urbana oferecidas pelas cidades e grandes metrópoles de hoje, reconheceremos de imediato que, ao longo das próximas décadas, se torna absolutamente inevitável construir não apenas mais cidade, mas também melhor cidade. A questão central que se nos coloca é, desde logo, a de saber se seremos capazes de construir a cidade que imaginamos. Trata-se de uma questão compartilhada com outros, nomeadamente Richard Rogers (2001) ou Susan Fainstein (1999), que questionam a cidade do futuro, não tanto do ponto de vista técnico, apesar das limitações que imperam nos domínios da capacidade política e de liderança, dos recursos e do conhecimento necessários para construir mais cidade, mas, sobretudo, do ponto de vista sociocultural e da capacidade para conferir expressão prática ao amplo património de reflexão de que dispomos sobre