Cultura e ritual
Os ritos e as passagens, encarnados e vividos pelos indivíduos ao longo de sua trajetória social, são um tema fundamental da reflexão antropológica.
A civilização ocidental moderna, representada no filme "Um homem chamado cavalo" por um aristocrata ingles, e a civilização indígena do meio-oeste norte-americano, nele representada pelos Sioux. Porém, no intervalo de sua duração, assistimos a uma transformação decisiva: um lorde inglês entediado tornou-se um homem pleno. O começo do filme o leva, a ele e a nós, para dentro desse outro e estranho mundo.
O filme nos dá ainda uma lição antropológica, de que o homem não é uma realização abstrata (como o da declaração dos direitos humanos universais) mas uma realização muito concreta: ser humano depende de outros humanos, é impossível que John seja um homem entre os Sioux a não ser por meio das concepções sioux do que seja um homem, não há na verdade dois termos = homem + cultura. O homem só é homem por meio da cultura. Ao mesmo tempo, e igualmente importante, essa instância de significados coletivos negociados e partilhados que chamamos cultura não é exterior ao homem.
O filme consegue nos mostrar abertamente e claramente que toda identidade é ao mesmo tempo atribuída e construída, e é esse o tema principal abordado no texto.
O texto deixa o rito como sendo uma “costura” simbólica entre as divisões internas existentes na sociedade, como diz Roberto da Matta, “se a sociedade fosse uma casa, com seus quartos e salas, os rituais seriam os corredores, as passagens, as varandas, por onde circulam as pessoas e os grupos entre uma e outra posição 'fixa' na estrutura, ao longo de sua trajetória social”. Pelas lentes dos ritos, o mundo social emerge como um ato de deslocamento constante no tempo e no espaço.
A separação compreende um comportamento simbólico que significa a separação do indivíduo ou grupo ou de um ponto fixo na estrutura social ou de um conjunto de condições