Cultura e Cotidiano Escolar
Cultura e cotidiano escolar*
Nilda Alves
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Educação
Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo
Espécie de acessório ou sobressalente próprio
(Álvaro de Campos, Poemas)
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias
(Alberto Caeiro, Poemas inconjuntos)
(In : Pessoa, 1998)
O poeta, em sua sabedoria, buscada no mais profundo de seu ser, por um acúmulo cultural que não é somente o seu, nem mesmo o de sua geração, mas que tem raízes no que gerações criaram e organizaram antes dele, é capaz de dizer, em poucas palavras, aquilo que na pesquisa levamos quinze anos para acumular, em uma trajetória que nos deu condi-
ções, até, para “achar” e “compreender” a síntese do poeta Fernando Pessoa, através de seus heterônimos
Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Na poesia do mestre está expressa, tanto a insignificância de cada ser individual como essa necessária condição de cada um e de todos. Somos esse acúmulo de ações e acontecimentos culturais cotidianos, insignificantes, mas formadores necessários. Ele diz, também de forma breve, de nossa permanente e cotidiana descoberta das coisas, o que nos leva a compreender nossa necessidade de diferentes modos de fazer para conseguir com elas viver, conviver e criar.
Como venho trabalhando com imagens da escola e da educação,1 entendi que vale a pena “compor”2
1
O trabalho tem sido desenvolvido no grupo de pesquisa
Redes de conhecimentos em educação e comunicação: questão de cidadania, na Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e conta com a subcoordenação de Inês
* Uma primeira versão deste trabalho, em sua primeira parte, foi apresentada na 25a Reunião Anual da ANPEd, realizada em
Barbosa de Oliveira.
2
Há anos, trabalho com a noção de redes de conhecimento e
Caxambu, MG, de 29 de setembro a 2 de outubro de 2002, como
com a idéia/ação da tessitura de conhecimentos em redes. Como a
trabalho