Cultura Religiosa Dinamica
A formação da personalidade como questão de engajamento pessoal reflexivo só surge com o desenvolvimento do pensamento operacional formal, próprio da adolescência. Este pensamento operacional formal é pensamento sobre o pensamento. Em outras palavras: enquanto as operações concretas constituem uma lógica de objetos e das relações entre objetos, as operações formais constituem uma lógica de proposições. Se as operações concretas manipulam objetos, as formais manipulam conceitos a respeito de objetos e seus relacionamentos. Se para o pensamento concreto a possibilidade é um subconjunto da realidade, para o pensamento formal a realidade, ao contrário, é um subconjunto da possibilidade. Capaz de transcender imaginativamente a experiência empírica, o pensamento formal cria asas, podendo construir estados ideais ou normas reguladoras. Em termos sociais, o pensamento operacional formal pode ser utópico, extrapolando e julgando criticamente a realidade presente. O adolescente revela um notável progresso na assunção das perspectivas dos outros, bem como a tendência de distorcer, com excessiva confiança, as perspectivas dos outros ao assimilá-las demasiadamente à sua própria.
Nesse último estágio de desenvolvimento cognitivo, a transcendência intelectual torna possível um novo tipo de reflexão sobre o curso da própria vida da pessoa. A criança operacional concreta é levada pelo fluxo de sua vida e reflete sobre os eventos e relacionamentos de dentro desse fluxo. Em contraposição, o adolescente começa a ser capaz de refletir sobre o curso da vida a partir de fora ou de cima dele. Operações formais acarretam a capacidade de construir um passado pessoal e de antever um futuro pessoal. Num sentido qualitativamente diferente do que ocorria antes, o jovem começa a exibir personalidade, isto é, o esforço disciplinador e consciente de moldar a sua vida de acordo com padrões e aspirações autodiscernidos.