Cultura indígena
Reginaldo Prandi
Texto publicado sob o título
“As religiões afro-brasileiras nas ciências sociais: uma conferência, uma bibliografia”
na Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais.
BIB-ANPOCS, São Paulo, nº 63, 1º semestre de 2007, págs. 7-30.
ISSN 151-8085
1. Um começo
Bom dia a todos e obrigado por sua atenção. Agradeço especialmente à comissão organizadora do XI Congresso Latino-Americano sobre Religião e Etnicidade1 pelo convite para proferir esta conferência de abertura, em que devo falar sobre as religiões afro-brasileiras nas ciências sociais. O tema me dá a oportunidade de refletir sobre trinta e cinco anos de leitura de uma enormidade de livros, artigos, capítulos e outros textos produzidos por cientistas sociais sobre candomblé, umbanda, xangô, tambor-de-mina, batuque gaúcho, batuque paraense, catimbó, encantaria e outras modalidades religiosas brasileiras de origem africana.
Para os menos familiarizados com as religiões afro-brasileiras, sobretudo os colegas de outros países, talvez seja oportuno dizer, de início, que as religiões afro-brasileiras compõem um diversificado conjunto de credos, alguns de caráter local, outros já revestidos da característica de religião universal, que podem ser encontrados por todo o Brasil, e até mesmo em outros países, especialmente Argentina e Uruguai. Mas trata-se, contudo, de um grupo minoritário no universo das religiões no Brasil. Menos de um por cento dos brasileiros diz seguir essas religiões, um número minúsculo, comparado aos setenta e cinco por cento de católicos e aos cerca de vinte por cento de evangélicos registrados pelos censos demográficos.
Apesar do pequeno número de adeptos, o candomblé e a umbanda têm grande visibilidade e muitos dos símbolos da identidade do Brasil, assim como práticas culturais importantes, são originários dessas religiões.