Uma Fatia de Adolescência A adolescência. “O melhor tempo da vida”. Será assim tão bom? Porque dizem tal coisa se passamos metade do tempo a deprimir, um quarto dele a fazer amizades pela internet e o restante, se ainda o tivermos, a sofrer por desgostos de amor dos quais nos livramos após uma semana? Talvez o melhor tempo da vida seja o momento em que acordamos, numa noite de Inverno, debaixo de múltiplos cobertores feitos pela avó no tempo de Natal e tudo parece perfeito, sem problemas, a temperatura ideal no nosso colchão feito de nuvens. Durante uns momentos, tudo está maravilhoso, mas aí chega a inevitável altura em que a razão fala mais alto e temos que sair. Saímos para dentro de um bloco de gelo e sofremos temporariamente até voltarmos ao paraíso da nossa cama. Talvez seja esse o melhor tempo da nossa vida. Talvez o bloco de gelo seja uma metáfora para esta fase por que todos passamos e o melhor seja a infância, a inocência, quando achávamos que tudo sabíamos mas nunca tínhamos ido para lá de Trás-os-Montes. Se “o melhor tempo das nossas vidas” por vezes parece o fim do mundo, como será quando tivermos de nos levantar todos os dias para fazer algo que não nos dá gosto e ainda fazer o almoço dos nossos ingratos filhos que nem com um beijo se despedem? Por fim, resumindo, o melhor tempo das nossas vidas acaba por ser o momento em que comemos uma fatia de melancia vinda do bloco de gelo onde estávamos, numa tarde de Agosto, em Trás-os-Montes.