Crítica Nietzsche
Quando jovem, Nietzsche via a Grécia como modelo de cultura forte, saudável e orgânica, capaz de gerar indivíduos igualmente fortes e criativos. Em seu primeiro livro publicado, O Nascimento da Tragédia, Nietzsche contrasta a vibrante cultura dionisíaca, evidente na Grécia pré-socrática e nos primórdios da tragédia grega, com os versos apolíneos mais racionais, evidenciados na argumentação socrática e na tragédia grega mais madura. A cultura dionisíaca era eminentemente afirmadora da vida, expressava energias e paixões corporais e unia as pessoas através do compartilhamento do êxtase das experiências culturais, das intoxicações e das festas – fatores esses que, segundo acreditava Nietzsche, criavam os indivíduos fortes e saudáveis assim como uma cultura vigorosa. Na visão de Nietzsche, a cultura socrática era uma resposta à quebra e à fragmentação da cultura trágica grega, a qual ela tentou substituir por um conjunto comum de valores éticos homogêneos, normas teóricas e procedimentos metodológicos, todos baseados na lógica e raciocínio socráticos. Para ele, a razão de ser desses valores era a substituição dos belicosos deuses da Grécia por uma cultura racional mais unificada. De certa forma, a cultura socrática promoveu, assim, uma cura para uma emergência cultural com o racionalismo extremo. Apareceram para refrear a força e os impulsos que tinham sido liberados, e que Sócrates e Platão acreditavam fora de controle. O resultado foi uma equação de razão, conhecimento e virtude que fez da razão o instrumento de condução àverdade e à moralidade. Assim, a cultura socrática revisou aquilo que Nietzsche via como sendo a visão pré-socrática do sofrimento, profunda e trágica, e propôs a redenção através da cultura pelo otimismo, que defendia a razão como sendo a descobridora da verdade e a criadora do bem viver. Para Nietzsche, o triunfo do homem teórico socrático criou as origens do racionalismo moderno e do otimismo iluminista,