Crítica ao filme "Persépoles"

389 palavras 2 páginas
Julia Magalhães Matos e Silva
Persépolis: vidas coloridas em um cenário monocromático
É indiscutível que países que estão constantemente em conflito acabam sendo extremamente estigmatizados. Quando se ouve sobre Iraque, Irã, Afeganistão é quase possível escutar o som das bombas e dos estilhaços voando dos prédios ruindo, sons de caos e morte. A grande maioria esquece, no entanto, que por baixo dos panos da guerra existe muito mais do que conflito irracional e eterno, mas vidas cujo centro de gravidade não é o conflito propriamente dito.
Focado na vida de Marjane Satrapi, iraniana erradicada na França que co-dirigiu o filme com Vincent Paronnaud, Persépolis é uma animação única. Os traços simples e em preto em branco, feitos pela própria Satrapi, mostram seus anos de juventude em uma Teerã virada às avessas pela Revolução Islâmica da década de 70. O estilo monocromático poderia tornar a narrativa lenta para o espectador acostumado ao pot-pourri de efeitos gráficos, mas ocorre o oposto: canaliza a atenção aos detalhes minuciosos, os prédios tortos da cidade que torna-se estranha para Satrapi, as flores que delicadamente caem do sutiã de sua avó, a narrativa dos anos de exílio de seu tio Anouche. Uma passagem em especial é a pequena montagem sobre o surgimento do regime do Xá no país, feita a parecer um show de marionetes. Recursos imagéticos como estes se repetem constantemente pelo filme, mostrando que, embora simples, o traço de Satrapi é preciso.
Outro diferencial de Persépolis é seu impecável senso de humor, semelhante em efeito ao clássico conterrâneo O Fabuloso Destino de Amélie Poulain de Jean-Pierre Jeunet: humor leve e inteligente, mas que não tem medo de brincar com detalhes de ridículo. Ainda que a história de vida de Marjane Satrapi seja marcada por diversos momentos sombrios e até trágicos, sua autobiografia existe a imagem de um ex-namorado asqueroso, uma caricatura nada favorável de um professor de arte e uma fita contrabandeada do Iron Maiden

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