Cruso Hegel
Aula 6
Nesta aula, terminaremos o comentário da Introdução à Fenomenologia do Espírito dando conta, assim, do trecho que vai do parágrafo 81 ao parágrafo 89. Vimos, até agora, como Hegel parte da necessidade da consciência operar aquilo que chamamos de “modificação da gramática filosófica”. Para que haja uma ciência da experiência da consciência, faz-se necessário uma profunda mudança na gramática filosófica que suporta as expectativas de racionalização que animam a consciência em seu agir e em seu julgar. Por “gramática filosófica” podemos compreender o conjunto de pressupostos não problematizados que serve de orientação para o pensar e para a constituição de seus modos de encaminhamento. De uma certa forma, ela é o campo de pressuposições de uma sintaxe para o pensar, campo este tão naturalizado que normalmente aparece ao pensar como uma “representação natural”. Vimos então como Hegel partia desta representação natural do pensar. Criou-se um modo natural de pensar que produz certas convicções, começava afirmando Hegel logo no primeiro parágrafo da Introdução. Parece natural, por exemplo, ver no conhecer ou um instrumento ativo de transformação da Coisa ou um meio passivo de participação com a Coisa. Parece também natural compreender o erro como uma inadequação entre pensar e o ser resultante de postulados equivocados do pensar. Tais representações naturais chegam a determinar que entre o conhecer e o absoluto passa uma nítida linha divisória, como se o objeto do conhecer humano fosse, naturalmente, o que é finito. Vimos ainda como, para Hegel, esta representação natural do pensar era, na verdade, uma figura da filosofia kantiana.
Partindo deste ponto, tentei mostrar para vocês como Hegel compreendia filosofia kantiana como operação filosófica dependente do que podemos chamar de “gramática da finitude”. Ao reconstituir alguns traços gerais da experiência intelectual kantiana, segundo Hegel, vimos como tratava de insistir que a estratégia