Critica ao Poema Cão sem Plumas -
Texto sobre a relação entre o poema "Cão sem plumas", de João Cabral de Melo Neto, e a exibição de obras de artes, sob curadoria de Moacir dos Anjos, baseadas nesse texto poético.
O universo poético de João Cabral de Melo Neto, autor inserido no Modernismo brasileiro, é principalmente, o da zona da mata e do sertão nordestino. Sua poesia remete o leitor constantemente às cidades de Olinda e de Recife com seus casarões antigos, seus mares e rios importantes como o Beberibe e o Capibaribe, e aos canaviais da zona da mata pernambucana. Mas também remete para a vegetação escassa da caatinga e à dor do agreste brasileiro.
Neste poema , O cão sem plumas,escrito em Barcelona, se inicia um ciclo de poemas em que o poeta explicita sua preocupação com a realidade nordestina e a denúncia da miséria. Poema soberbo, composto por 426 versos, divididos em quatro partes – nas duas primeiras trata da paisagem e, nas duas últimas, do discurso. É a descrição das condições sub-humanas nas palafitas e mocambos do Recife. A dicção é dura, como convém ao tema, mas nunca resvala para o panfleto. É um longo e hermético poema que denuncia não só o estado do rio, mas também a situação de exclusão da população ribeirinha, à margem de tudo.
Capibaribe é o nome do rio deste poema, é um rio pobre, guiado por sua realidade e observação ao que se passa em suas margens. O rio ocupa condição de protagonista e narra as etapas de seu percurso geográfico, como se fosse desenhando, em detalhes, a região, o povo e a cidade.O poeta descreve que a pobreza do rio está em suas águas cheias de lama, pois são as águas em abundância que constituem a riqueza de um rio. O verso “o rio que carrega a fecundidade pobre” demonstra a falta de perspectiva de vida, sua “fecundidade”, ou seja, a esperança de uma “nova vida” é levada pela lama negra, o rio “grávido de terra negra” reforça o determinismo das condições precárias de vida daqueles que lá moram. As palavras fecundidade e grávido