Crise Asiática
A crise asiática e seus desdobramentos
V. II N. 4 DEZ. 00 pp. 25-60
Otaviano Canuto *
Introdução
A crise financeira asiática de 1997-98 foi surpreendente não apenas pelo alcance global de seus desdobramentos, como pelo fato de ocorrer em uma região que se tornara, pouco antes, uma referência mundial em termos de crescimento econômico rápido e sustentado. A surpresa foi ainda maior por incluir, em seu epicentro, a Coréia do Sul, o exemplo maior de upgrading da periferia em direção ao núcleo de economias desenvolvidas.
O presente texto aborda a experiência de crise e recuperação nas cinco economias asiáticas (Coréia do Sul, Tailândia, Indonésia, Malásia e
Filipinas), buscando localizar seus traços comuns e diferenciados, bem como entre elas e outras experiências em economias emergentes. Foco particular será dedicado ao caso coreano.
O item 1 descreve os traços iniciais da crise, buscando ressaltar aspectos comuns e diferenciados nas crises gêmeas (cambial e financeira) nas cinco economias. Sugere-se que alguns indicadores de vulnerabilidade financeira o nível de endividamento e de concessão de crédito em relação ao PIB, bem como a proporção entre a dívida externa de curto prazo e as reservas externas apontavam para a profundidade e o caráter contagioso da crise em todos os casos. Adicionalmente, mostra como, diferentemente de outras crises em economias emergentes, fundamentos macroeconômicos inconsistentes não podem ser designados como causa destacando-se, assim, a insuficiência das abordagens até então disponíveis na literatura sobre crises cambiais em economias não-desenvolvidas.
* Professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do CNPq
(ocanuto@eco.unicamp.br). Uma versão anterior do texto foi apresentada no Seminário sobre a Coréia, organizado pelo IPRI, no Hotel Le Méridien, Rio de Janeiro, em outubro de
2000. O autor agradece aos participantes do seminário, bem como a André Moreira Cunha,