Criação
A abertura do longa "A Criação", de Jon Amiel, que estreia hoje nos cinemas do Rio e de São Paulo, mostra quase didaticamente do que trata a teoria que abalou as crenças do mundo há 151 anos.
O balé começa nas galáxias, migra para os protozoários, que se tornam milhares de peixinhos, depois uma revoada de pássaros, nuvens de borboletas, rebanhos...
Até chegar no homem. É exatamente quando a coisa encrespa.
Ambientado no interior da Inglaterra vitoriana, o filme mostra os não poucos dilemas vividos por Charles Darwin nos anos que antecederam a publicação de A Origem das Espécies, em 1859.
Estamos acostumados a pensar no cientista como um homem velho e barbudo, mas no filme ele tem menos de 50 anos e é vivido, ou seria melhor dizer sofrido?, por Paul Bettany (de O Código Da Vinci).
A longa jornada entre a concepção da teoria e a publicação do livro é marcada pelo dilema do autor, que vê a conclusão das próprias ideias como uma espécie de assassinato. "Você matou Deus", confirma-lhe o amigo e biólogo Thomas Huxley.
No íntimo, Darwin já não crê no divino mas, se não teme magoar a Deus, hesita em decepcionar a religiosa Emma Darwin - interpretada por Jennifer Connelly (Oscar de melhor atriz coadjuvante por Uma Mente Brilhante), esposa de Bettany na vida real.
A angústia se completa com a culpa de ambos, que eram primos, pela morte da filha Annie (Martha West), aos 10 anos. Dos 10 filhos que tiveram, sete alcançaram a vida adulta.
A história às vezes se arrasta e há um certo abuso nos truques para fazer a plateia chorar (ninguém gosta de ver uma criança definhando).
Mas é interessante observar as pequenas amostras e explicações, àquela época, de como a luta pela sobrevivência - e não os "desígnios de um Criador bondoso" - determinam quem fica e quem perece neste mundo.
Se o dramalhão ocupa mais a cabeça, e custa a saúde de Darwin, do que sua teoria