Crer, o que significa?
Em sua coluna de maio, o antropólogo Luiz Fernando Dias Duarte aborda um dos temas que mais geram polêmica, tanto no meio acadêmico quanto fora dele: a religião. A recente construção do ateísmo militante é um de seus focos.
Por: Luiz Fernando Dias Duarte
Publicado em 13/05/2011 | Atualizado em 13/05/2011 Os fenômenos religiosos, desdenhados por grande parte dos cientistas exatos e naturais, são intensamente estudados pelas ciências humanas em sua busca pela compreensão do sentido da vida. (foto: Marco Caliulo/ Scx.hu)
Um dos tópicos mais favoráveis à emergência de desentendimentos entre cientistas sociais e colegas de outras áreas é o da religião ou crença. Embora haja muitos cientistas que não se considerem ateus ou agnósticos, a imensa maioria tende a considerar o empreendimento científico em si diametralmente oposto a qualquer coisa que cheire a místico ou religioso, inquietando-se enormemente com ameaças de intrusão da superstição na seara da razão.
Quase todos ignoram que possa existir algum tipo de análise ou interpretação dos fenômenos religiosos – e que a antropologia dedique-se intensamente a essa tarefa. Na medida em que nos dispomos a conhecer o sentido da vida humana, nada nos interpela mais que o conhecimento das ubíquas, permanentes e intensas experiências e crenças religiosas.
Um dos primeiros pontos a esclarecer é o próprio foco do problema. Embora se considere em nossa cultura que exista uma área da vida social que se pode reconhecer facilmente como “religiosa” (templos, divindades, espíritos, rituais, crenças, orações, devoção etc.), essa não é a realidade na maior parte das culturas. E, na verdade, não é sequer inteiramente na nossa.
Considera-se como “religiosa” a dimensão de cada sistema simbólico que se ocupa das ordens mais abrangentes de significado
Do ponto de vista mais abstrato possível, considera-se como “religiosa” a dimensão de cada sistema simbólico que se ocupa das ordens mais abrangentes de