Cozinha
Carlos Alberto Dória[?]
A filosofia nos ensina: onde só um é livre, ninguém é livre. A culinária nos ensina: onde não há liberdade não se desenvolve a gastronomia, pois se vemos ai manifestações do espírito humano sua premissa é também a liberdade.
Uma história da cozinha brasileira seria, necessariamente, o esforço por perseguir a criatividade culinária de seu povo. No entanto, nem sempre a liberdade de criação esteve presente em nossa história. O colonialismo foi um terreno estéril para a construção gastronômica. Este deve ser o ponto de partida ao apresentarmos, para estrangeiros, neste início do século XXI, uma trajetória de quinhentos anos de formação de algo que insistimos em chamar “culinária brasileira”. Uma culinária que – dizem todos – é rica e diversificada.
Neste início de século, é preciso reconhecer também que a idéia de nação se transformou de modo dramático. Assistimos, nos últimos quinze anos, o desmoronar de uma série de nações européias formadas no século XIX e o reaparecimento de realidades étnicas acobertadas pelo aparente unitarismo dos velhos estados nacionais. A nova e vigorosa emergência dos povos da Espanha é o melhor testemunho. E poucos duvidariam de que o vigor atual de sua gastronomia baseia-se nesse reaparecimento cultural da Catalunha, do País Basco e assim por diante. Assim, a expressão “nação”, neste século XXI, aparece como algo anacrônico – nem de longe significando o que foi um século atrás.
E se nos debruçamos sobre o Brasil é preciso também rever a sua história de formação, nos afastando da tentação de um lugar comum: a idéia de que o colonialismo foi o cadinho desse amálgama que aparentemente somos hoje. Contrário senso, não teria a Europa forjado para o seu autoconsumo uma imagem ideal e irreal dessa história na qual o seu papel foi mais o de espoliador do que de construtor? Não acreditaram os europeus terem encontrado o Paraíso terreno, persistindo nessa crença