cotidiano selvagem
Talvez alguns de nós nunca tenhamos sabido sobre a Internacional Situacionista (3), outros talvez já tenham dela se esquecido, de tão remota sua impressão no mundo de hoje. Mas, com astúcia, aí vêm eles de novo. Nomes como Jorn, Debord, Constant e Gilles Ivain, ou facções como Internacional Letrista e Movimento para uma Bauhaus Imaginista, vez por outra assinam citações em textos de teoria da arquitetura. Uma rápida pesquisa nos temas de periódicos publicados na década de 90 nos faz descobrir que uns tantos filósofos e arquitetos têm, pacientemente, investigado a vida daqueles rapazes no final dos anos 50 em Paris (4).
A tese situacionista – expressa no dito acima por um Debord sempre desafiador – da revolução do cotidiano em parte funda-se na idéia de uma experimentação radical dos lugares da cidade ou mesmo no desenho de uma arquitetura nova, que não transformasse a vida “em happenings e performances”, mas fizesse superar “a dicotomia entre momentos artísticos e momentos banais”. Entretanto, a crítica da vida cotidiana realizada na IS nunca resolveu sua ambiguidade fundamental. Espécie de zona de fronteira a que não se pode deixar de atravessar, o cotidiano mostra-se ora lugar de uma vida rica em experiências, ora lugar da escassez a que se deve opor a vida verdadeira. Como, então, reconstruí-lo a partir do conceito radical que advém dos escritos e obras de Debord e Lefebvre ou de Asger Jorn e Constant?
O argumento deste trabalho, concernente à teoria da arquitetura, detém-se na crítica situacionista do cotidiano para analisar em que medida a experiência da arquitetura esboçada na IS faz avançar a investigação filosófica no aspecto da recepção das obras. A posição conferida à arquitetura na IS