Cotas
Minha pele é branca, pálida, salvo as partes queimadas pelo sol enfrentado diariamente, às vezes tão pálida que, quase regularmente, respondo dúvidas do tipo: Você tem se alimentado bem? Você está tão branco! Ele, tem uma cor invejável, forte contra raios solares, imune a sardas indesejadas.
Notando esses fatos, na mesma rotina todos os dias, acordo bem cedo para trabalhar, e do trabalho pego direto um ônibus para ir à universidade, saio de casa as 07h40min para voltar às 00h00min, tendo que no outro dia, acordar as 06h00min para ir ao trabalho, de segunda à sábado, me orgulho disso, apesar de ataques de cansaço repentinos, me sinto bem sabendo que faço tudo o que está ao meu alcance e que quando vou dormir não tenho que acertar às contas com minha própria consciência sobre o que fiz com o meu tempo, pois luto o perdendo, para o ganhar futuramente. Desde os 15 anos trabalho.
Ele, nunca trabalhou na sua vida. Acorda no horário determinado para ir à academia, tem rotinas duras pois seus suplementos alimentares precisam ser tomados no horário correto. Durante a noite ele tem o mesmo destino que eu, rotinas divergentes durante o dia, mas ao cair dos astros, convergem ao mesmo lugar.
Todos dizem que ele nasceu com todas as desvantagens, e eu, com todos os privilégios. Todos dizem que eu, por ter nascido branco, sou culpado pela escravização dos seus semelhantes, mesmo eu nunca tendo um empregado durante toda a vida, tendo trabalhado desde muito cedo. Eu tenho uma dívida história à pagar, ele, é livre.
Eu, branco, ele, negro.
Ele, tem uma rotina diária bem mais fácil à seguir, eu, nem tanto.
Então, adivinhe quem de nós terá vantagem sobre vagas na faculdade? Quem de nós terá prioridade em concursos e afins?
Se há alguma justiça no que chamamos de cotas, seriam se elas fossem dadas a apenas a uma raça, a raça daqueles que não podem pagar pelos seus estudos, a raça dos trabalhadores que ganham pouco e fazem muito, a raça dos pobres