Cotas e bolsa-família

Por que eu defendo as quotas para negros e o bolsa-família? Para mim, a história do Brasil é cheinha de quotas, mas só são objeto de revoltas as que beneficiam as minorias.

Já que esta narrativa precisa ser mesmo eurocêntrica, consideremos a colonização como ponto de partida. A chegada do português passa uma borracha em tudo o que havia. Um mistério, não se sabe nada antes disso. E é tão verdade que o modo com que usurparam as terras alheias foi, legalmente, considerado um modo de aquisição ‘originário(!)’ – ou seja, antes dos patrícios, nada era de ninguém - Aham, tá sserto.

Com o passar do tempo, o sistema sesmarial impôs uma série de benefícios para que as terras fossem ocupadas e os territórios não ficassem à mercê de invasões dos povos autóctones e dos povos das outras nações (não seria justo que os índios ou outros ladrões roubassem os primeiros ladrões, né?). Assim, para mim, o primeiro sistema de quotas foi concedido pela coroa portuguesa ao branco português, que ganhava um quinhão de terra para ocupar e produzir... Surgiam os primeiros latifúndios. Como a enfiteuse no Brasil teve muitas peculiaridades, a propriedade não seria vitalícia, mas perpétua (isso mesmo, quota perpétua e hereditária, indignados seletivos de plantão!).

Então, temos lá, como ponto de partida da história nacional, o branco recebendo quotas perpétuas. Ao mesmo tempo, temos índios sendo dizimados e negros, escravizados.

Quando a escravidão acabou, nenhuma linha da Lei Áurea regulava como os negros deveriam ser absorvidos pela nova sociedade que se formava. Eram cerca de 1 milhão de pretos. Todo mundo sabe disso, eu sei. Mas o raio da comparação com a outra ponta é que quase ninguém faz. Os brancos haviam recebido terras (quotas?) para produzir e os pretos, haviam herdado apenas uma sociedade que fazia questão de preteri-los. Por estranha coincidência – assim como a enfiteuse das terras, isto também revelou-se como herança perpétua.

Mas alguém precisaria trabalhar.