Cosmos
Transcrição de registos radiofónicos
Pensamento Cruzado, TSF, 12 de agosto de 2010
Publicidade
EXP11RP © Porto Editora
Mésicles Helin
– Vítor Cotovio, hoje é possível sequer imaginarmos viver sem publicidade?
– Nós vamos criando, ao longo do desenvolvimento da nossa sociedade, vamos criando necessidades. E, ao criar necessidades, também criámos uma necessidade que foi a necessidade de algo que nos criasse mais necessidades. E isto parece um paradoxo. Leva-nos a algumas inquietações. Eu não sei se seria possível ou não, tenho…faço para mim a fantasia que seria. Faço para mim a fantasia que seria. Mas é certo que essa não é a grande questão.
A grande questão parece-me ser aquela que tem a ver com o poder manipulatório ou de manipulação que a publicidade pode ter. Essa é que eu acho que é a grande questão. Como sabe, todas as técnicas de publicidade são técnicas que vão ao encontro dos nossos mecanismos psicológicos e nomeadamente do nosso funcionamento psicológico muitas vezes mais primário, porque vão àquilo que é mais instintivo em nós; vão à procura de explorar, catalisar os nossos instintos mais do prazer, mais do impulso e do instinto, o que pode fazer com que nós percamos a capacidade de fazer um filtro que nos permita verdadeiramente entender aquilo que queremos e não queremos. E muitas vezes vemo-nos a fazer coisas condicionados pela publicidade, porque perdemos a capacidade de fazer esse filtro, de articular o que é que é instintivo com aquilo que é o nosso pensamento e as emoções, porque a publicidade vai catalisar emoções, mas muitas vezes catalisa-as de uma forma em que não permite que o pensamento se embrulhe nestas emoções. Embrulhe no bom sentido, ou seja, que seja passível de refletir sobre as emoções que nos são provocadas por aquelas injunções que vêm da publicidade. Eu digo que o que existe, existe, a publicidade existe. Acho que não é uma questão estar a questionar neste momento se