corpo e identidade jocimar
(In: MOREIRA , W. W. (Org.) Século XXI: a era do corpo ativo. Campinas: Papirus, 2006, p.49-62)).
Discutir o corpo a partir da Antropologia Social implica reconhecer que esta ciência foi certamente a que mais se confrontou com a diversidade de comportamentos e hábitos corporais por todo o mundo. Isso porque essa área, estruturada a partir do século XIX, colocou inicialmente como seu objeto de estudo os seres humanos que viviam em lugares distantes, manifestando costumes e comportamentos considerados exóticos. Quando, durante a segunda metade do século XIX e início do século XX, a Antropologia começou a sistematizar métodos de pesquisa para encontrar e compreender os seres humanos espalhados pelo mundo, ela estava se defrontando com as diferenças corporais expressas pelos vários grupos. Nesse sentido, o corpo, para a Antropologia Social, sempre identificou tribos, ainda que a compreensão desses povos fosse diferente, em função da época, dos aportes científicos possíveis e dos interesses políticos vigentes.
Ainda no século XIX, quando das primeiras formulações teóricas próprias dessa nova ciência que nascia, a aproximação com o outro foi influenciada pelo evolucionismo. Os seres humanos encontrados nas longínquas tribos eram considerados como seres menos evoluídos, que ainda não tinham alcançado a categoria de civilizados. É famosa a classificação de Lewis Morgan, um dos principais antropólogos da época, que afirmava que qualquer ser humano encontrado no mundo estaria numa dentre três categorias: selvageria, barbárie e civilização. Assim, as diferenças corporais eram vistas como desigualdades, tomando-se sempre como padrão a sociedade européia da época. Os corpos serviam para identificar uma certa tribo num estágio evolutivo. As diferenças culturais entre os povos eram vistas como se fossem determinadas pela sua evolução biológica. É claro que essa classificação era preconceituosa e etnocêntrica, servindo