Corpo biocibernético

vicissitudes do corpo biocibernético

Resumo

Durante muito tempo o corpo humano foi visto pela ciência como um mero suporte para a alma, tendo sido dissociado do sujeito e das questões relativas à sua subjetividade. Atualmente, além de locus para os estudos sobre o paradoxo natureza e cultura, o corpo tornou-se alvo de reflexões que incluem questões filosóficas, políticas e identitárias. Paralelamente, as discussões sobre teoria social, observa-se a crescente preocupação com o conceito de identidade cultural, à medida em que se deslocam os processos e estruturas das sociedades modernas e abalam-se as certezas estáveis que o ancoravam. Para Stuart Hall (2006), figuram entre os desestabilizadores do entendimento de si, provocando o "descentramento do sujeito", as paisagens culturais de classe, gênero , sexualidade, etnia, raça, linguística, religiosidade e nacionalidade. (HALL, 2006 p.8) Embora Hall não tenha elencado a fusão entre estruturas maquínicas e biológicas entre os fatores problemáticos no contexto das identidades contemporâneas, este trabalho procura trazer à pauta a inserção do corpo biocibernético no cenário social do século XXI e problematizá-lo como suscitador de questionamentos acerca da subjetivação do discurso tecnológico e científico, assim como as consequências deste processo nas construções identitárias. Se as fronteiras do corpo podem ser consideradas como "os limites de identidade de si", como nos coloca Le Breton (2003), então o sujeito encontra-se materializado neste corpo, não apenas em naturalidade biológica, mas em toda a cultura que se projeta em sua estrutura. Le Breton reforça esta argumentação ao assinalar que a fragmentação do corpo nada mais é do que o reflexo da fragmentação do próprio sujeito. "O corpo é hoje um desafio político importante, é o analista fundamental de nossas sociedades contemporâneas." (LE BRETON, 2003 p. 26) Tendo em vista os preceitos aqui observados, o presente texto tem como foco