conversas com quem gosta de ensinar
Prefácio não vou escrever. Conversas não devem ser prefaciadas. A gente simplesmente começa e a coisa vai. Que ninguém se engane. As conversas que seguem são conversas, mesmo longe da seriedade acadêmica – um esforço para ver as coisas através da honestidade do riso.
Mas não resisto à tentação de citar outros que prefiram o humor. Talvez para me justificar a mim mesmo.
Invoco o riso daqueles que percebam o ridículo da seriedade. O riso é o lado de trás e de baixo, escondido, vergonha das máscaras sérias: nádegas desnudas de faces solenes.
É só por isso que ele tem uma função filosófica e moral. O riso obriga o corpo à honestidade. Rimos sem querer, contra a vontade.
Você sabe que, no humor, as explicações só servem para atrapalhar. Uma anedota explicada é uma anedota que perdeu a graça. O riso brota do prazer da surpresa “as roupas novas do rei”, não? Tudo terminou quando um menino entrou em cena. Ignorava as etiquetas, respeitabilidades, convenções. Mas tinha bons olhos. E berrou, para todo mundo ouvir: “O rei está nu”.
Esse menino sonhou tornar-se filósofo. Não conseguiu. Seus possíveis colegas eram sérios demais, não sabiam rir.
Percebeu, então, que era ele que desejava lê-los como companheiros. Muito melhor a companhia das crianças que moram dentro dos adultos.
Sobre Jequitibás e Eucaliptos
Para lhes dizer a verdade, não sei onde meu pai arranjou aquele almanaque, velharia do século passado, e que catalogava os municípios das Minas Gerais, um a um. Listando os velhos mais ilustres, seguindo a ordem alfabética, estava Boa Esperança, terra de meu pai, e ele ajeitou os óculos para ver se descobria naquele registro do passado a informação de algum antepassado ilustre, quem sabe alguma glória de que se pudesse gabar! Até que parou. Lá estava. Não podia haver dúvidas. O sobrenome era o mesmo: Espírito Santo. Profissão: tropeiro. Tropeiro? Isso mesmo. E com a tropa de burros e o barulho imaginário dos sinos da madrinha, pelas trilhas da serra