Convergências e divergências estéticas em Mar morto
Tereza Ramos de Carvalho1
Mar Morto2, um romance denso e carregado de forte carga emotiva, pode ser considerado uma prosa poética. O mar, o encanto, o amor têm vida própria, parecem considerados pelo autor anteriores aos outros personagens, pois apesar dos “homens da beira do cais”, do amor entre Guma e Lívia, o mar é o personagem principal da obra, o mar e seus mistérios. Ele representa a vida dos marítimos. E o fim de todos eles pode ser entendido como símbolo de transcendência. O que converge a obra tanto para uma tendência simbolista pela plasticidade que apresenta, como para uma tendência romântica pela nomeação da natureza como personagem - no caso, o mar, envolto em seus mistérios.
A obra converge do Romantismo para o Realismo partindo do lirismo, do sonho e da fantasia para uma realidade presente, identificada na pobreza, na miséria, na prostituição inerentes ao determinismo, como se pode observar em toda a obra, por exemplo: “as mulheres que o velho Chico traz nas noites de amor são sempre belas. Nessas noites, Guma ouve os gemidos, os beijos e as risadas” (pág. 43), e ao citar a prostituição das mulheres que “se entregam por dinheiro, das que fazem do amor seu ofício”, (págs. 46 e 123). Em toda a narrativa o realismo determinista se faz presente na vida dos personagens. O meio hostil e a origem influenciam seu comportamento: “trazia bem pouco da infância de filho do mar, cujo destino já estava traçado pelo destino”, (pá. 51). O mar, como grande personagem que é da obra, tem o poder de traçar o destino de todos que vivem dele. E o destino de cada homem é encontrar sua liberdade, num sinal de integração cósmica, com a morte, no mar. “O marinheiro deve ser livre para morrer, para celebrar suas núpcias com Iemanjá, (pág. 121); a rainha, mãe e amante do mar.
O romance pode ser considerado um grande painel da vida e da morte daqueles que vivem no cais. Há que se observar ainda a