Contracultura
ARMANDO ALMEIDA[1]
Resumo
O objetivo desta reflexão é contribuir para a discussão do papel exercido pela contracultura na sociedade contemporânea. Parte-se de que em fins dos anos 60 toda uma revolução de costumes e valores, a ela associados, desloca para o campo da política uma enormidade de temas que não habitavam os territórios institucionalizados das negociações sociais: a questão homossexual, feminina, negra, ambiental, étnica, etc. Para tanto, elege-se para dialogar com o assunto, prioritariamente, uma coletânea de textos de Foucault dedicada a inquirir sobre as relações de poder na contemporaneidade, especialmente voltada a dimensionar os micropoderes na trama social. Inquirir sobre a “genealogia das relações de força” é aqui uma tentativa de compreensão da capacidade e amplitude que tiveram aqueles acontecimentos de produzir efeitos. Pois a questão em apreço cobra uma “análise ascendente do poder”, que parta das células mais elementares da sociedade, que vá além da classe social e valorize o cotidiano.
Talvez não seja exagero dizer que não é possível se falar em relações de poder na contemporaneidade sem que, inevitavelmente, sejamos remetidos ao final dos anos sessenta (68/69). Há quase um consenso, mesmo entre aqueles que vêem com estranheza a idéia de pós-modernidade, de que ali, naqueles anos, algo aconteceu que fez mudar a “ocidentalidade”. Optei por tratar por contracultura aquele conjunto de fatos sociais que vai reverberar intensamente mundo afora a partir de maio de 68 na França e do movimento hippie nos EUA. Ao longo deste artigo espera-se que discussões de algumas de suas características possam torná-la mais evidente. E de algum modo melhor esclarecer o que por ela se entende.
Particularmente em a Microfísica do poder[2], Michel Foucault (2006) faz reflexões que me