Contos de fadas
Há muitas coisas que fazem parecer ousadia falar jus¬tamente sobre a poesia dos contos de fadas à luz da pesqui¬sa espiritual. Uma delas é a dificuldade que o assunto apre¬senta, pois, de fato, as fontes de onde jorra a atmosfera dos contos de fadas, a verdadeira atmosfera dos contos de fa¬das, precisam ser buscadas em tais profundezas da alma humana que os métodos da pesquisa espiritual, já várias vezes descritos por mim, têm de perfazer longos e complica¬dos caminhos até que justamente essas fontes possam ser encontradas. As fontes da alma humana das quais jorra a verdadeira poesia dos contos de fadas, que falam para nós como algo mágico, originário de todos os séculos do desen¬volvimento da humanidade, situam-se muito mais profun¬damente do que imaginamos.
Outra coisa é que, justamente diante desse algo mági¬co da poesia dos contos de fadas, temos em alto grau o sen¬timento de que, por uma reflexão, por uma penetração ideal na essência dos contos de fadas, o elementar, a impressão primordial da alma é destruída — sim, é destruída a pró¬pria essência da atuação dos contos de fadas. Se, com toda a razão, julgamos que as explicações, os comentários sobre a poesia destroem a impressão estética imediata, a imedia¬ta impressão de vida que a poesia deve provocar quando deixamos que ela atue em nós com uma simplicidade ele¬mentar, com mais razão ainda não deveríamos admitir as explicações sobre toda essa poesia infinitamente sutil e in¬finitamente mágica que brota, em forma de contos de fa¬das, de fontes aparentemente tão profundas e aparente¬mente tão impenetráveis da índole do povo ou da índole de cada pessoa. Ao querermos, com a força do julgamento, in¬tervir naquilo que brota da alma humana de modo tão es¬pontâneo, que é a poesia dos contos de fadas, é como se, na verdade, destruíssemos a flor de uma planta.
Contudo, por um lado parece ser possível aos métodos da pesquisa espiritual iluminar, ao menos um