Conto
“Eu nunca senti isso na minha vida...” pensou Isa. “Eu nunca senti isso na minha vida. Fui sentir isso agora, com 21 anos. Ó Meu Deus!” Essa era a grande realidade. Isa jamais sentira. Isso. Essa “coisa”, agora. Essa “coisa” nasceu de repente. Nunca lhe passara pela cabeça que pudesse haver uma festa, toda sua, às 11:30 da noite de um sábado quente de março. Isa sentia-se muito só. Ela se sentia assim todos os dias, mas especialmente naquela dia. Achava-se só. Não encontrara ninguém para conversar. Tinha vontade de ir à rua. Ao menos os mendigos ouviam-lhe em troca de esmolas. “Não” – pensou ela – “Não posso ir nessa festa. Preciso dormir cedo. Amanhã é domingo e tenho que ir à missa. Ir a uma festa de adultos...E só...E se eu for como criança? Não. É o 5º Domingo da Quaresma. Mas e se eu fosse na missa depois de voltar da festa, às 6 horas da manhã, daria para eu ir...Não. Não posso fazer isso. Vou ajoelhar, rezar, ir para cama e dormir agora mesmo. Já é tarde. São 9 horas da noite. Vou escovar os dentes.” O curioso disso tudo – e isso quero enfatizar – é que Isa nunca fora a uma festa, pensara em uma festa ou quisera ir a uma festa. Mas e a festa? Que festa é essa? Que teria essa festa de tão especial para atrair a atenção de Isa depois de tanto tempo? Mas era ir à festa, ora! Isa desliga a TV. É março de 1996. O noticiário foi horrível. Assaltante invadiram uma casa, na Zona Sul do Rio, na rua Rodolfo Dantas, trancaram uma família inteira na dispensa, roubaram tudo quanto puderam e, não satisfeitos, estupraram as meninas, obrigando o pai e a mãe a ver tudo calados, sob à ameaça de pistolas. Depois, deu um tiro na cabeça de cada um. Ainda não foram achadas pistas dos suspeitos. “Cruz Credo! Maldito bandido!” disse Isa sentada no sofá. “Onde está a polícia que não pega uns desgraçados como esses? Eu poderia atirar neles umas 80 vezes...Até que meus pés ficassem tingidos do sangue desses infelizes! Aquelas meninas mal começaram a