Conto missa do galo
Daguerreótipo de 1845 de Edgar Allan Poe (1809 - 1849)
O Corvo (The Raven), poema de Edgar Allan Poe (1809? – 1849) é uma das mais prodigiosas obras literárias em língua inglesa, tanto pela qualidade do texto como pelas angustiantes temáticas que suscita em diversos campos do conhecimento. É uma obra literária, mas de tal modo banhada de pensamento (Roger Martin du Gard) que não se restringe a si mesma. É uma obra atual que transcende o terreno puramente literário para dialogar com as várias disciplinas intelectuais, especialmente a filosofia e a teologia e lançar-nos – ou melhor: desafiar-nos – com questionamentos para os quais homem algum ainda encontrou resposta, o que torna o texto ainda mais intrigante, fascinante e, sobretudo, poderoso. O poema é, portanto, um exercício de reflexão sobre a vida – e sobre o além da vida, porque sua reflexão penosa e terrível adentra naquelas regiões inconcebíveis que só podemos imaginar pela fé e em perspectiva. O Corvo, portanto, é uma obra que fala à humanidade, porque suas demandas afligem todos os povos e etnias, todas as línguas e todas as sociedades.
Paul Tillich em sua Teologia da Cultura, fala acerca da função das artes no trabalho de reflexão do teólogo. Tillich começa a sua reflexão cultura partindo de Hegel. A religião, considerada a preocupação suprema, é a substância que dá sentido à cultura, e a cultura, por sua vez, é a totalidade das formas que expressam as preocupações básicas da religião. Em resumo: religião é a substância da cultura e a cultura é a forma da religião [1]. Para Paul Tillich, impõe-se a necessidade de enfrentamento direto da realidade desumana da sociedade moderna, porque o seu contrário, isto é, a luta contra o mundo isolando-se como que dentro de um castelo, é uma incongruência neurótica que além de nos tornar psicopatas, nos isola por completo da realidade. A arte, portanto, nos possibilita refletir, mas além de refletir também interferir